depois da chuva
tudo é relevado
o pasto com seus
cogumelos
energizados
as motos
com seus
perigos
arrotam
dissonância
e
ousadia
o chá
prensado
com cheiro
de urina
de ratazana
a música
cristã
dos
hipócritas
da
cabana
a doença
que me
levou
para longe
a sentir
o odor
matutino
das entranhas
do barqueiro
a lição
que fingi
aprender
que nessa vida
nada nasce
por inteiro
-
-
essa ampulheta
de sangue
nos causa
pavor
o cérebro
não computa
como
antes
tapo
minha boca
com fita
isolante
não tenho
paciência
para esse
orgulho
exacerbante
não jogo
mais
esse jogo
que
te
satisfaz
não sentimos
o mesmo
não somos
iguais
um dia
quando
você
acordar
eu já não
vou
mais -
caio na tentação de sonhar com sua apneia
e lá se vai mais um dia de rimas e cefaleia
a doença como pretexto para se sentir abrigado
a cara de safada que é um disco ao contrário
o crime hediondo como prevenção ao castigo
a ruptura forçada contra uma aliança desgastada
a imensidão entre o que se é e o que se quer demonstrar
os caninos desgastados pela inconformidade diária
a pretensão de se ser maior do que a feiúra do espelho
da minha língua arisca brotou calos nos meus joelhos
você adorando a deus fazendo o que o diabo gosta
não são apenas suas mãos que agradam minhas costas
eu fujo da métrica como seu punho ao me atingir
passeio com meu cão cego sem medo de me despedir -
o olho que mareja
e não é tristeza
é a paz que existe
no canto dos
passáros
mortos
nunca houve
resquícios
de verdade
nas tuas
palavras
eu não tenho
ódio
só
desgosto
o
contraponto
do
desejo
tua falsidade
será o pingente
mais brilhante
da tua
mortalha
não teremos
histórias
pra contar
apenas
os restos
dos pratos
finos
que
dividimos
em
vão -
lixos abortados do meu rascunho:
jankenponentre acumular e gastar
há sempre
a opção
de perder
minimilistas
por obrigação
niilistas
por ausência
de
devoção
o demônio
do tempo
tornando
sua pele
enrugada
sua ambição
desgraçada
seu amor
vazio
ter vontade
é não ter
liberdade
de
escolher
morrer
de
frio
e no paradoxo
das nossas
escolhas
tanto faz
se pedra
ou papel-*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*
ela disse que não consegue viver sozinha
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incauto nessa autópsia que se levanta
dos entes venerados e agora odiados
nas liturgias poéticas sem semântica
nas orgias nefastas-*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*
serão nossas últimas palavras
as mais confortáveis
ou…-*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*
eu me sinto
quase o tempo todo
errado
equivocado nas letras
torto em meu
passado
canhoto na minha
presença-*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*
peço perdão
no meu leito
de morte
quando eu for
não há quem
me
conforte
?haverá paz
além das
entrelinhas
deste
discurso
discrepante?-*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*
não se leve tão a sério
não se leve
não tão
quanto
quero
perdi-*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*–*-*
entro na hora errada
peço desculpa
sem fazer
nada
amo -
o gosto de noz estragada
que comove toda derrota
envolve a sina agonista
que todo azar denota
chega a ser tão confuso
a não saber se frio ou calor
tanto existir escuso
nem brio nem amor
uma nova decapitação
de flores notívagas
poemas controversos
e vontades ambíguas
eu quero muito
já não me importar
se é meu esconderijo
o que chamo de lar
se é inconclusivo
o ato lesivo
de não querer
amar
por não ter
nada
em
troca
sendo a dor
a única
que realmente
nos
foca -
o comportamento humano
se iguala
ao dos
javaporcos
violência
dopamina
e pretensão
minha retina
só absorve
o que me gera
obsessão
desejo
atropelo
conquisto
gozo
compulsivo
imagem
e
semelhança
cada um
com sua
cruz
seus
pecados
e suas
dissimulações
de ser
santo
aqui
o
pranto
é o fim
da
ejaculação -
entre a experiência mágica e a soberba estética captamos os seres primordiais repugnantes
Dagon demonstra suas ligeiras variações nos contos míticos
e eu quero acasalar minhas vontades com pensamentos putrefatos e complexos
deixo meu corpo para ser marcado
meu manto para ser laceado ao meu pescoço
meu sono para entrelaçar significado ambíguos
o terror que habita o inconsciente coletivo
habita em mim
e eu
como um terror específico
habito teu inconsciente com meus fascínios espirituais e meus prazeres materialistas
-
tanto rascunho
que merece
protagonismo
tanto antagonismo
que merece
conciliação
tanta ilação
que carece
de quietude
tanta solitude
buscando
perversidade
tanta maldade
que quer
misericórdia
tanta corda
onde cabe
minha
cabeça
é tanta
Andressa
que já me falta
dimensão -
já faço as coisas
sem saber
se estou
ali
minha voz interna
é um rádio
dessintonizado
acordo
sem perceber
as árvores
e os carros
na estrada
nada acontece
eu não estou
aqui
não estou
em
nada
eu nem sei
se ligo
pra
isso
já
não
estou
e não
sei
se
esse
é
o
fim -
Esgotamento. Ser absorvido pelo não querer. Não conseguir diligenciar palavras e não se importar. As coisas parecem já estar fora do lugar sem possibilidade de revanche.
Dormir como pretensão última da pulsão de morte é ineficaz. O sono não vem. Quando vem é rasteiro e vacilante. Acompanha a frustração de não repousar eternamente. Fomenta a bipolaridade e a intensidade do dano emocional.
As fronteiras da dor e do normal já não se estabelecem. A dor é uma comigo e eu com ela. Peso na face, nos músculos e no existir. Ora são as costas, ora sou eu.
O corpo quer revirar, expelir a vida e desovar a alma. Empanturrado, nauseado e indiferente ao amor.
É só o que tenho hoje.
-
não mete o louco
em quem
já fez
mestrado
no
sanatório
toda essa
oratória
quando
esmiuçada
não sustenta
meu
grimório
vem de leve
e
com tudo
com
fronte
honesta
e
sem
sobretudo
só não venha
com a outra
metade
da
missa
nem
afrontosa
e
nem
submissa
pode fazer
sua fumaça
beber
sua
cachaça
só não
tire
a
minha
graça