do ponto em que parei

eis
a
lacuna

as coisas
nunca
serão
como
antes

como aquele período
de risos
inocência
e
de uma
inata
vontade

grita
o
desinteresse

as tentativas
de se
ter
emoção
resultam
em uma
pálpebra
mais
cansada

não entendo
se foi
o mundo
que
mudou
ou sou
eu
destoando
em outro
acorde

a chuva
segue
cumprindo
seu
papel
como
parquímetro
desta
depressão


súcubo e/ou só você

Três horas da manhã.
Você está em cima de mim.
Suas mãos neuróticas e sempre bem afeiçoadas apertam meu pescoço.
Suas unhas constrangem minhas carótidas e jugulares.
As aranhas que cultivo no meu quarto não fazem nada.
Meu cachorro cego e gagá não faz nada.
Perco o ar.
Agonizo
Constato, por inoportuno, que sua feição de ódio é mais interessante do que a de prazer.
Sinto no seu gozo gosto de ambição e vaidade.
Não são pecados meus. Ao menos estes não.
Morro.
Sem cruz.
Sem ascensão.
E levanto.
Tonto, com fome e constipado.
Dou uma tragada em um cigarro eletrônico de menta que ainda não diz como vai ferrar comigo.
Nicotina.
Você não está mais ali.
Não sei se esteve.
Nunca soube como era sua verdadeira forma.
Eram muitas camadas.
Roupa por cima da pele.
Pele por cima de carne.
Carne por cima de osso.
Osso por cima de mim.
Deus acima de todos.
E eu afetuoso ao arquétipo satânico.
Retomo meu manco equilíbrio mental.
Meu cão me olha irritado posto que amolei seu sono.
E volto para cama.
Com a medíocre certeza de que ao menos alguém superou nosso lindo caso de terror.

Ventos e pampas

Não tenho tempo desidioso para me arrepender

Os erros agonizantes são acertos de aprendizado

Indômito, às vezes me preocupo mais com a forma do que o conteúdo

E esse pensamento mestiço é o que envaidece meu feudo

Neste tratado de Tordesilhas, metade é teu e o que sobra também

Épico é o filtro de adjetivos que não é dono de ninguém

Farrapos de poemas nesta senda separatista

O contrabando de ideias e a eclosão de novas degolas terapêuticas

Pense melhor antes de fazer uma piada arrogante e prepotente

Nós somos muitos e nossa maldade é conhecida desde os primórdios

Mas não sabemos lidar com nossas próprias bolas

É o paradoxo de quem escreve só para sobreviver ao tédio e à doença cruel da solidão

blonde hair

na topografia

das ranhuras

de sua pele

há alguém

que não eu

mas isso

nem me importa

tanto

sua presença

em suas várias

deliciosas

maneiras

era minha

mais genuína

amizade

sem toque pérfido

sem vacilo

além de todos

aqueles

que nos

permitimos

fomos exterminados

pela distância

pelo tempo

pela guerra

de

mentiras

mas isso

não ofusca

a letra samaritana

desta declaração

de amor

farto de tanto querer

iniciado
por entidades
fictícias
que não
me deixam
em paz
tomo cuidado
com o que quero
pois quando consigo
não me satisfaz

vela
sangue de border
pena de carcará
cristal raro
quando começo
a descida
até não aguentar
não
paro

esse delírio
por ter
corpo
alma
e
total
governança
é fugaz
acontece
tem seu ápice
e depois
me
cansa

e lá vem
Schopenhauer
e a sinfonia
de
Mahler
me lembrar
com
austeridade
que onde
eu pertenço
é no fim
da
Vontade

zolpidem

a pupila contrai e dilata

não, não é flashback de lsd

não é alteração mediúnica

é sono

você não me deixou dormir

e eu sequer sei como você é

o que pensa sobre mim

se um dia escreverei epopeias sobre nossas aventuras

ou se você suportaria minha sensibilidade desconfortável

estou aqui

há muito

em piloto automático

de sentimentos conflituosos

pensamentos poéticos

e muito barulho

no lado direito

da cama

é sono

obsessão

e talvez

nada mais

meus piores versos

você não é
uma
obra de arte

tenho convicção disso
quando ouço
Chet Baker
sem amor
nenhum
em mim

e na esteira do
English Tea nº01
penso
no
rabisco
pelo
qual
entreguei
meu
escasso
talento

assim
agourento
eu lhe
dedico
o prêmio
não ganho
o apelo
físico
supervalorizado
e toda
costura
social
que não
enfrentei

o poema
acaba
mal
eu
sei

porque
antes
que
eu
novamente
te
ataque
ambos sabemos
você não é
uma
obra de arte

morgue

nos dias
infrutíferos
no leito de hospital
pensava em você

como seria
ao lidar
com a notícia
ocasional
da minha
morte

se deitaria
uma
lágrima
de
vertigem
e ao
mesmo tempo
alívio

se ingressaria
numa
bad vibe
como se
oportuno
fosse

se diria
irônica
“morreu jovem”
“viveu intensamente”
“vida que segue”

se recordaria
nostálgica
do meu
sadismo
e das
minhas
artérias
manipuladoras

por um instante
quis morrer

pra
poder
te
testar